Aquecimento Global e Energia são dois conceitos intimamente ligados, uma vez que o setor energético é responsável por mais de dois terços das emissões globais de gases com efeito de estufa (AIE, 2017). A energia é também um dos principais pilares da sociedade, satisfazendo a maioria das necessidades humanas (ex. iluminação, comunicação, mobilidade, confeção de alimentos, produção industrial), sendo por isso determinante para o desenvolvimento económico. As tendências históricas mostram como o desenvolvimento económico tem estado associado ao consumo energético, com os países desenvolvidos a apresentarem valores elevados de consumo energético per capita.
A procura global de energia cresceu mais de 50% entre 1973 e 2015, suportada pelos combustíveis fósseis que representam mais de 81% do consumo de energia primária em 2015 (IEA, 2017). Globalmente, se esta tendência continuar, as emissões de CO2 irão praticamente duplicar até 2050, levando a um aumento da temperatura média global de pelo menos 6°C, quando comparado com o nível pré-industrial.
No entanto, nas últimas décadas temos assistido ao desacoplamento entre o consumo energético e o crescimento económico, devido a mudanças estruturais na economia, aumento de eficiência energética e alterações no uso de combustíveis, com destaque para a crescente utilização de fontes de energia renovável.
Os impactes provocados pelo consumo de recursos e as emissões associadas ao consumo de energia, justificam a sua redução em todas as atividades económicas, fomentando um desenvolvimento económico e social que seja sustentável, sendo para isso necessário um sistema de energia seguro e acessível, compatível com a proteção ambiental. O 7.º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (Energia Acessível e Limpa) pretende “Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno, e a preço acessível à energia para todos” e traduz esta necessidade. Os sistemas energéticos baseados em combustíveis fósseis originam problemas, como a depleção dos recursos naturais e poluição, contribuindo em grande medida para as alterações climáticas, acarretando impactes no bem-estar humano e na economia. Para além disso, os recursos fósseis, como o petróleo e o gás natural não estão igualmente distribuídos entre países e regiões, com efeitos negativos diretos nos custos de acesso à energia dos países importadores.
As alterações socioeconómicas e comportamentais, assim como a descarbonização do sistema energético através de tecnologias de baixo carbono e a melhoria da eficiência energética, têm múltiplos benefícios, podendo simultaneamente dar resposta às alterações climáticas, melhorar a qualidade do ar, e fomentar a segurança energética através da promoção de um sistema energético mais sustentável com um portfólio tecnológico mais diversificado, resiliente e confiável.
Nos últimos anos Portugal tem vindo a implementar profundas alterações sociais e económicas, refletidas no seu sistema energético e com impacte nas emissões de GEE. Atualmente a política energética nacional assenta na racionalidade económica e na sustentabilidade, que se traduzem em medidas de eficiência energética, na utilização de energia proveniente de fontes endógenas e renováveis e na necessidade de reduzir custos (ADENE 2016).
A dependência energética do exterior tem vindo a diminuir, sendo que entre 2000 e 2015 teve uma redução de 9%. Esta descida deve-se à aposta nas energias renováveis, que são desde há uns anos a principal componente do sistema eletroprodutor. Ainda assim, em 2015 o consumo de combustíveis fósseis representou 76% da energia primária consumida, um valor elevado, ainda que inferior à média mundial.
No final de 2016, e de um total de 21,3 GW de capacidade total instalada no país, 63% da capacidade é referente a fontes de energia renováveis, fundamentalmente hídrica com 32%, e eólica com 25%, complementada com fontes fósseis, principalmente gás natural com 24% e carvão com 9% (DGEG, 2017).
Os setores com maiores consumos de energia são os transportes, que em 2015 representaram 37%, a indústria, com 31%, e os edifícios, com 29% do total. No entanto, em todos os setores tem-se verificado uma redução de consumo. Entre 2000 e 2015, a indústria reduziu 22% o seu consumo, os transportes 17% e os edifícios 15% (DGEG, 2016).
O papel do sistema energético é por isto, preponderante rumo à neutralidade carbónica.